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quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Quase extemporâneo

Gerou-se um tédio enorme acerca das notícias sobre a morte da Irmã Lúcia que não sei bem a que se deve mas existe e que temos de gramar em cada conversa de esquina. Pondo de parte a discussão sobre a credibilidade das aparições de Fátima e mais ainda a crença de cada um, temos de convir que o milagre moveu os cristãos de todo o mundo, gerou no Santo Padre uma enorme devoção por Nossa Senhora de Fátima e levou a Irmã Lúcia a viver em contemplação e oração durante décadas. Ser-se uma religiosa carmelita é talvez a opção mais difícil de entre as que existem na dedicação da vida ao Sagrado Coração de Jesus. Bem, mas o que verdadeiramente interessa é que o enjoo que muitos referem não me parece ter qualquer sentido. Reconheço que quase não vi televisão e mal me apercebi do dia de luto nacional – porque é coisa que se decreta mas não se sente – e por isso não posso avaliar da dimensão das notícias. Certo é que a sua morte merece referências, muitas referências mesmo, porque se trata de alguém que, da forma que sabia e sentia, nos dedicou a sua vida. Não com a mesma visibilidade com que o fez a Madre Teresa de Calcutá mas seguramente com a mesma força interior. Rezou por nós, não tenho a menor dúvida, pediu sempre por todos os portugueses nos momentos de maior aflição – se do outro lado está alguém a ouvir ou não, isso já é outra coisa – e fê-lo como acreditou: com desprendimento, entrega e de forma altruísta. Era portuguesa, muito nossa. Será beata e com grande probabilidade virá a ser canonizada. Um dia será Santa Lúcia e muitos lhe pedirão que interceda por alguma causa e rezarão por ela e "através" dela. Isso é importante e deve ser muito mais notícia do que tantas outras notícias que todos os dias nos impingem.
Lá sobre a necessidade do dia de luto nacional tenho algumas reservas. É certo que não passa de uma homenagem mas num estado laico...

Devo acrecentar que sou católica e quase não mencionei o assunto. Garantidamente não fiz do tema conversa.