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segunda-feira, setembro 26, 2005

Republished

- Quando voltamos a ter o nosso amor? Ele levantou os olhos do chão, antes de olhar para mim. As suas pupilas dançavam a um ritmo acelerado e parecia-me que os seus lábios tremiam quando disse:
- Quanto tempo podes esperar?
Se eu respondesse dois ou três dias podia parecer impaciente. Por outro lado, se dissesse “toda a vida”, ele poderia pensar que eu não gostava verdadeiramente dele ou, simplesmente, que não estava a ser sincera. Por isso, optei pelo meio termo. Respondi:
- Até o meu coração sangrar de dor. Ele sorriu, indeciso. E passou um dedo pelos meus lábios antes de perguntar:
- E quanto tempo é isso?
Desarmada optei por dizer as coisas como eram:
- Talvez cinco minutos.
As minhas palavras pareciam agradar-lhe e murmurou:
- Não podes esperar um pouco mais?
Agora era a minha vez de exigir uma resposta:
- Quanto tempo?
- Meio ano. Se esperares esse tempo, podemos voltar a ter o nosso amor de volta – respondeu. Devo ter suspirado ao dizer:
- Porquê todo esse tempo?
- Porque é o tempo que tens de esperar.
Ele deve ter notado o meu desapontamento, porque acrescentou:
- Se conseguires, podemos estar juntos e amar-nos todos os dias dos anos seguintes.
Não consegui esperar. Fui atrás dele e do nosso amor...
Passou muito tempo, muito menos de seis meses mas muito mais de cinco minutos. Quando nos reencontrámos ele estava à mesa. Com ambas as suas mãos pousadas sobre as minhas sorriu calorosamente, não parecia nem um pouco perturbado.
- Não conseguiste. Não conseguiste esperar por mim – disse ele.
- Não – admiti. – O meu coração está a sangrar de dor.
Ele continuava a sorrir. Tentei sorrir também mas não consegui.
- Então perdi a aposta – acrescentei.
Ele reflectiu antes de responder:
- Às vezes na vida temos de sentir um pouco mais de saudades. Escrevi-te para não sucumbires à saudade.
Senti um estremecimento que percorreu os meus ombros, quando repeti:
- Então perdi a aposta!
Ele respondeu com um sorriso pouco convincente:
- Tu foste desobediente. Mas ainda há esperança de reparar este incidente.
- Como?
- Continua como antes. Tudo depende da tua paciência.
- Não compreendo nada – respondi. Depois afagando-me as mãos e suspirando, murmurou:
- O que é que tu não entendes?
- As regras. Não compreendo as regras.
Observei-o. Tentei recordar-me do primeiro encontro com ele. Olhei para os seus olhos claros, estudei a sua face algo misteriosa e em seguida o meu olhar desviou-se para o seu corpo. Ele não pareceu sentir-se incomodado. Depois conversámos durante muito tempo. Não vou repetir timtim por timtim tudo o que dissemos um ao outro nesse fim de tarde e pela noite fora. Na verdade já nem me lembro bem. Se eu o tinha encontrado há muito tempo, agora já mal conseguia lembrar-me disso. Mas apenas pensar como era bonito e o amava. Sabia que o tinha encontrado e que a partir desse momento não precisava de procurá-lo mais.

Porque tenho saudades tuas e porque não me canso deste texto, nem do ele que representa.