Entrei e acomodei-me com alguma dificuldade na carruagem porque a divisão do território já estava demarcada.
Aproximei-me do lugar onde achei que tinha mais espaço e pedi desculpa a uma senhora que ia a ler o jornal do metro por lhe ter tocado com a carteira e perturbado a leitura. Fiquei de costas para ela, por ser a forma mais confortável de viajar e no metro não se aplicarem algumas das regras de boa educação.
Duas estações depois ouço a voz da senhora atrás de mim e começou o diálogo:
- A sua carteira é muito perigosa - disse enquanto dobrava o jornal.
- Não é nada, não trago cá dentro nada que exploda. - Brinquei.
- Pois, mas é perigosa... vê-se que é de marca, vê-se que é belíssima, vê-se que tem muito bom gosto - olhava-me de alto a baixo - e como se destaca das outras pessoas é um alvo apetecível para quem anda por aí a roubar.
- Sim, mas ando muito de metro, esta carteira já fez muitas viagens e nunca aconteceu nada. Acho que sentiria se alguém tentasse enfiar a manápula lá dentro. - Respondi já meio enfadada e sem querer continuar o assunto.
- Pois, mas não pense que alguém a ajudaria se pedissse ajuda. Já me aconteceu e ninguém liga.
- Mas eu não sei se pediria ajuda ou se resolvia a coisa de outra forma - disse eu pensando logo que era a formiga rabiga que fura barrigas e olhando, enquanto falava, para um homem que ali estava ao lado, com um aspecto de assaltante à mão armada e que, se calhar, isto já era uma indirecta da senhora para me dizer que ele já me tinha limpo a carteira.
Entretanto chegámos ao meu destino, virei-me para a senhora e despedi-me com bom dia e ela respondeu-me dizendo bom dia e que também saía ali mas ia na outra direcção.
Andei uns passos e meti a mão na mala para sentir se estava lá tudo. Estava!
Coitado do senhor que não tinha limpo coisa nenhuma e foi mal julgado por mim e da senhora que não devia ter com quem falar há séculos.